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segunda-feira, 24 de novembro de 2008

QUANDO EU TINHA 12 ANOS - DAVID COIMBRA

- Ao lado está a imagem em JPEG, clicando em cima e abrindo em outra janela, ela ficará ampliada.

> O jornalista e editor de esportes de Zero Hora, David Coimbra, publicou em sua coluna de ontem uma crônica perfeita. Ali, ele colocou sua admiração pela Geral, e ainda confessou que esse fenômeno das arquibancadas do Olímpico não obteve da imprensa um cuidado e estudo que mereceriam. Ele mesmo se critica, por não dar a devida atenção que essa torcida merece. Ele ainda coloca se a Geral fosse carioca, brilharia no Jornal Nacional ou Fantástico, terminariam sempre seus programas com imagens desta torcida. Já a imprensa gaúcha só sabe criticar, destruir, mas construir e elogiar não é com ela. David Coimbra mostrou que algumas vezes as pessoas podem ter uma luz de consciência, mas espero que não fique só colocada numa bela história como essa de domingo, mas que seja colocada em funcionamento, que passem a valorizar a torcida TRICOLOR. Ao final ele coloca em resumo o que deve ser a Geral ou qualquer torcida, qual deve ser o lema a ser seguido, e ele sintetiza isso muito bem: todos os torcedores devem se sentir crianças de 12 anos, que só pensam em torcer, pois essa é a esência de uma torcida, torcer por torcer. Parabéns pelo texto, David!

> Abaixo, segue o texto publicado em Zero Hora de ontem, domingo, dia 23 de novembro de 2008. Aqui está o link da matéria no site ZeroHora.com, confira!

'DAVID COIMBRA


QUANDO EU TINHA 12 ANOS


Não sou muito diferente do que era quando tinha 12 anos. Quando tinha 12 anos, queria mesmo era me divertir. Exatamente como hoje. Não havia ninguém de quem realmente não gostasse, quando tinha 12 anos, e hoje também não há. Amava as meninas, quando tinha 12 anos, e hoje ainda as amo, e naquela época, bem como agora, sentia genuíno prazer em estar com amigos, em comer, jogar bola, ir ao cinema, ler, escrever e rir e rir.

Quando tinha 12 anos, o futebol me enfeitiçava tanto quanto as pernas das alunas do Becker, que faziam aula de educação física dentro de shortinhos mínimos, no campo do Alim Pedro. As paredes do meu quarto eram tapadas de pôsteres de times. Colei pôsteres até no teto. Lia tudo sobre a história do futebol. Aprendi sobre clubes extintos e façanhas de antigos jogadores. O Lagreca, garanto que você não sabe do Lagreca, primeiro técnico da Seleção. Nem de Baltazar, o Cabecinha de Ouro. Nem do supertime que um dia montou o Aymoré de São Leopoldo.

Quanto tinha 12 anos, o Brasil armou uma Seleção poderosa para jogar a Copa da Alemanha. Não havia mais Pelé, e Clodoaldo se machucou, mas havia a patada atômica de Rivellino, e Jairzinho, o Furacão de 70, que agora jogava debaixo de um vulcânico cabelo black-power, e Paulo César Lima com sua técnica superior e seus cabelos acaju, e Luizão Pereira, que saía jogando de queixo erguido e passo largo, e Marinho Chagas com suas melenas loiras e, no gol, Emerson Leão, de quem as mulheres diziam ser dono das mais belas pernas do Brasil. Parecia impossível existir time melhor do que este. Existiam dois. A Holanda de Cruyff e a Alemanha de Beckembauer. O Brasil perdeu para um futebol diferente, avançado, desconcertante. Uma revolução de chuteiras acontecera em silêncio na Europa durante quatro anos. Agora era o futebol-força, o futebol total. E nós rebolando abaixo da Linha do Equador... Depois daquela Copa, passamos a sentir a desagradável impressão de que nunca mais uma seleção latina ganharia o caneco.

O Brasil não foi minha única decepção em 1974. Participei de um concurso de desenhos promovido pela Abril Cultural. Aos concorrentes pedia-se que fizessem desenhos sobre a Copa, claro. Tomei do meu flamante “Manual do Zé Carioca”, que comprei com meu próprio dinheiro, ganho com a venda de picolés de Ki-Suco, e me inspirei nos personagens, principalmente o próprio Zé Carioca e seu amigo Nestor, fundadores e craques do Vila Xurupita Futebol Clube. Analisei meus desenhos e os considerei dignos de um dos prêmios, mas, semanas depois de os ter enviado, recebi uma carta da editora comunicando-me que meus trabalhos tinham causado acirrado debate entre os julgadores, cumprimentando-me pelo meu talento, incentivando-me a ir em frente, mas lamentando: eu não ganhara nada. Não gostei daquilo. Nunca mais desenhei. Sorte dos leitores, que agora contam com as ilustrações do Fraga nesta página.

No futebol, prossegui. Desde os 12 anos venho freqüentando os estádios, sobretudo Olímpico e Beira-Rio. Vi GRE-nais em que metade da arquibancada era AZUL e a outra metade vermelha. Era um jogo diferente, especial. Gostava de pensar que fosse único. Vi mudar a forma de torcer no Rio Grande do Sul. Essa torcida do GRÊMIO, a Geral, representou uma inovação no futebol gaúcho que talvez só tenha ocorrido quando Vicente Rao passou a organizar a torcida do Inter nos anos 40. A Geral do GRÊMIO mudou o jeito de torcer no Rio Grande do Sul e no Brasil, impressiona gente que vem de outros Estados e não tenho a menor dúvida de que é responsável pela maioria das vitórias do GRÊMIO nos últimos anos. Mais: a Geral do GRÊMIO é um fenômeno social que ainda não foi bem estudado. É um erro nosso, dos jornalistas gaúchos: não ressaltamos suficientemente essa torcida. Fosse torcida carioca, brilharia a cada semana no Jornal Nacional.

Sou um admirador da Geral do GRÊMIO e espero que ela cresça e continue movimentando os estádios. Mas, para que isso aconteça, a própria Geral terá de expelir de seu corpo os tumores que a estão empestando. Os violentos, os arruaceiros, os que se aproveitam da torcida para ganhar dinheiro vil, esses têm de ser banidos. Porque uma torcida como essa, que transforma o estádio num organismo vivo, tem de ser pura. Tem de ser parnasiana: torcer por torcer. Pela alegria do futebol. Para se divertir. Como se todos na arquibancada tivessem 12 anos de idade.'

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