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sábado, 22 de novembro de 2008

O NOME DA ESTRELA É EVERALDO - MÁRIO MARCOS DE SOUZA

- Ao lado está a imagem em JPEG, clicando em cima e abrindo em outra janela, ela ficará ampliada.

> Apesar de não existir nenhuma motivação racista nos episódios do fim-de-semana passado, envolvendo duas torcidas do GRÊMIO, o assunto fez com que Mário Marcos de Souza, jornalista e um dos editores de esportes de Zero Hora, publicasse na sua seção "Bola Dividida" um baita texto sob o título "O NOME DA ESTRELA É EVERALDO". Ali ele explica o por quê Everaldo, o TRICAMPEÃO MUNDIAL com a melhor Seleção Brasileira de todos os tempos em 1970, ao lado de Pelé, Tostão, Gérson, Rivelino, Jairzinho, Carlos Alberto Torres, entre outros, teve a honra de dias depois ser IMORTALIZADO como uma ESTRELA DOURADA na bandeira TRICOLOR. Sem dúvida alguma, Everaldo é mais um símbolo GREMISTA, que demonstra assim como em Tesourinha, Tarciso, Anderson, que somos todos iguais, somos GREMISTAS!

Parabéns ao Mário Marcos de Souza pelo belo texto. Acredito que agora todos os GREMISTAS sabem quem foi EVERALDO, A ESTRELA DOURADA TRICOLOR!


> Abaixo, segue o texto publicado em Zero Hora, deste sábado, dia 22 de novembro de 2008. Aqui está o link da matéria no site ZeroHora.com, confira!

'BOLA DIVIDIDA - MÁRIO MARCOS DE SOUZA

O NOME DA ESTRELA É EVERALDO


Em meio à surpreendente artilharia em um dos pontos da Avenida José de Alencar, no fim da tarde de domingo, sobrou até para um dos ícones do GRÊMIO. Os tiros atingiram duas vítimas, uma delas na cabeça, arranharam a imagem da torcida, provocaram dias de debates e de acusações, algumas envolvendo ameaças físicas, ricochetearam e, no caminho, deixaram um rastro de suspeitas uma delas, de racismo. Entre acusações e negativas, apareceu a notícia de que a exposição de uma bandeira com o rosto do lateral-esquerdo tricampeão mundial Everaldo teria sido vetada por um dos grupos. Pode até não ser verdade ou tudo não passar de uma manobra diversionista, como rebate a ala acusada, mas seria conveniente que nesta hora os dois lados aproveitassem para fazer uma rápida revisão sobre a história do clube. Ou recomendassem isso para jovens torcedores que talvez nem saibam por que há aquela estrela de ouro (foto menor, abaixo) logo acima do distintivo na bandeira. Se já sabem do que se trata, melhor ainda: poderiam aproveitar para relembrar um dos episódios mais importantes e comoventes da história de seu próprio clube aquele em que senhores engravatados, no ambiente solene do Conselho Deliberativo, decidiram fazer a maior homenagem que um jogador de futebol poderia receber. Naquela noite, Everaldo, este mesmo envolvido agora na guerra suja de alguns grupos de torcedores, virou estrela e entrou na bandeira.

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Na busca destes caminhos pela história do clube, os interessados poderiam começar pelo Memorial do Olímpico, por exemplo, e procurar por dona Ema, a diretora sempre disposta a falar sobre os personagens que mantém por perto, em quadros, nos arquivos, álbuns de fotos e recortes de jornais, nos muitos esconderijos que formam um museu. Ela gosta de falar sobre isso. Quem for até lá vai perceber que ela se emociona ao reler trechos de atas, em contar episódios da vida do clube. Como faz quando lembra de Everaldo, talvez o único jogador da dupla GRE-nal que tenha conseguido reunir as duas grandes torcidas gaúchas em uma única, grande e emotiva celebração. Houve personagens capazes de ocupar um lugar de ídolo nos dois lados, em épocas diferentes, como fez Tesourinha, para ficar em um dos casos mais famosos, mas no mesmo dia, na mesma cidade, só Everaldo. A cidade parou por ele.

Parece inacreditável nestes tempos em que torcedores do mesmo lado brigam selvagemente, como ocorreu no fim da tarde de domingo, mas naquele distante dia 24 de junho de 1970, a rivalidade foi deixada de lado e todos se uniram, GREMISTAS e colorados, para receber o tricampeão mundial. Nunca houve nada igual na cidade, nem mesmo a recepção aos campeões mundiais ou as festas pelos diversos títulos da Dupla, até porque estas sempre são celebrações feitas por apenas um dos lados. Aquela, não. O comércio fechou as portas às 15h. Virou feriado. Carlos Stechman, presidente do Inter na época, estava lá no aeroporto para recepcionar Everaldo e se juntou ao cortejo que desfilou por uma Porto Alegre menos agitada. Foi uma festa da torcida gaúcha, sem separações de cores e rivalidades, orgulhosa por receber o primeiro campeão mundial saído diretamente de um time daqui para a Seleção Brasileira.

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Everaldo, 26 anos na época, surgiu à porta do Caravelle da Cruzeiro do Sul exatamente às 14h56min do dia 24 de junho de 1970, uma quarta-feira, três dias depois da decisão da Copa e da goleada sobre a Itália no Estádio Azteca do México. Ele foi o primeiro a aparecer. Vestia um traje de couro com franjas e trazia nas mãos uma réplica da Taça Jules Rimet. Ergueu o troféu, como Carlos Alberto fizera quatro dias antes no Azteca, e acenou para a multidão. Cercado por autoridades, abraçado por companheiros de time, ele foi conduzido ao caminhão da distribuidora de água Charrua, ao lado da mulher Cleci, da filha de pouco mais de um ano Denise e da mãe Florinda, acomodou-se em uma poltrona e preparou-se para o desfile. Precedido por batedores da Brigada e por uma cavalaria que abria passagem ao som de clarins, ele passou pela Farrapos, circulou pela cidade, subiu pelas ladeiras do Centro e chegou à Praça da Matriz, em frente ao Piratini. Da saída do velho Salgado Filho ao Palácio, em uma cidade de trânsito bem mais suave, foram três horas. Em todo este tempo, o carro conduzindo Everaldo esteve cercado por multidões, que em vários momentos romperam o cordão de isolamento. Ao longo do caminho, mais carros se juntavam à comitiva e eram também cobertos pelos papéis picados que desciam dos edifícios. Parecia que toda a cidade estava nas ruas, recebendo o ídolo. Não houve disputa de cores, nem provocações típicas da rivalidade. Naquele dia, a torcida estava unida para abraçar um gaúcho que fizera parte de uma das melhores seleções de todos os tempos.

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Poucos dias depois, Flávio Obino, presidente do GRÊMIO, encaminhou ao Conselho proposição para considerar Everaldo atleta laureado e colocar a estrela dourada na bandeira, como uma homenagem permanente ao campeão. A proposta foi aprovada por unanimidade no dia 30 de junho, seis dias após a chegada do jogador a Porto Alegre. O próprio Everaldo foi chamado para colocar a estrela na bandeira (D, na foto, ao lado de Obino e de Rubens Hofmeister, então presidente da Federação). A voz de dona Ema treme quando ela lê um trecho da ata da sessão, lembrando o momento em que chamado pelos conselheiros Everaldo entrou no salão, ao som de clarins que executavam o hino do clube. Daquela hora em diante, Everaldo Marques da Silva (1944-1974), gaúcho de Porto Alegre, tricampeão do mundo ao lado de Pelé e Tostão, virou estrela. Que ele seja preservado, portanto, e mantido acima de conflitos rasteiros.'

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